segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Falando em guerra...

Se há momentos em que o Homem toma lugar, assumindo o papel principal, criador de algo terrível, é sem dúvida quando desencadeia a guerra. Eu divido a história da guerra, cronologicamente falando, em duas fases: guerra antes da pólvora e guerra depois da pólvora. Como já aqui referi num post anterior: de todas as más descobertas do Homem, a pólvora toma o primeiro lugar. Repugna-me, como o Homem é capaz de se maravilhar com tal pérfida criação, juntando igualmente, as armas-de-fogo, as bombas, os misseis, et cetera. Não aceito como se consegue matar sem se olhar nos olhos do inimigo... (Haverá maneira mais cobarde de matar?) Sempre considerei a guerra dos antigos muito mais nobre. A guerra era ganha pela força que empunhava a espada, pela coragem que fazia os homens avançarem com os gumes em riste, pela vontade de mudar algo pelas próprias mãos... ao contrário do simples premir do gatilho.

Esta introdução vem ao encontro de uma noticia que li na minha habitual 'viagem' online pelo semanário Sol, que aqui vos dou conta.

Segundo o Sol, o Reino Unido começa a preocupar-se com a saúde mental das suas tropas. Agora no começo da retirada das forças britânicas do Iraque, "o pessoal médico já iniciou o processo de tratamento dos soldados, tanto físicos como mentais". Parte destes soldados estão em serviço já à dez anos, seis a quando da invasão do Afeganistão e queda do regime Taliban e outros quatro de invasão do Iraque e queda do regime de Saddam Hussein.

Esta medida do governo britânico foi tomada após "
críticas de famílias de soldados e organizações de veteranos", pois consideram "que o Reino Unido não está a tomar as medidas necessárias". O governo britânico já tomou providências: "Uma das medidas foi o aumento do valor pago a soldados gravemente feridos em ataques (570 mil dólares.)"... (Quanto custará uma perna nova? Ou um braço? Ou até dois? E a falta de um olho?)

Outra medida do governo britânico foi o aumento
da "verba concedida à Combat Stress, uma entidade beneficente que ajuda os veteranos que sofrem de problemas mentais graves causados pela guerra". Esta organização data do pós Primeira Grande Guerra e foi criada para ajudar veteranos de guerra que ficaram com patologias psíquicas devido ao estarem inseridos num cenário de guerra. A Combat Stress conta com "8 mil pacientes registrados, incluindo veteranos da Segunda Guerra Mundial, Guerra das Malvinas, Guerra do Golfo, dos Bálcãs e, agora, Iraque e Afeganistão".

Lembrei-me do 'Full Metal Jacket' (do mestre
Stanley Kubrick) ao ler esta notícia. Todos falam dos traumas dos veteranos de guerra, dos problemas dos soldados após terem ido para combate... mas todos se esquecem e ninguém fala do primeiro trauma que um soldado sofre: a recruta. Quando se transforma um ser humano numa máquina de matar, é natural que nada acabe bem, que nada fique como outrora. A mudança de carácter a que são sujeitos, a tortura psicológica e física que sofrem, o serem reduzidos ao estatuto de cães obedientes, é, sem dúvida, de uma crueldade atroz. Os soldados já vão sem saúde para a guerra, portanto é natural que não saiam bem dela.

Mas isto aos senhores das guerras não interessa nada...

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